terça-feira, 4 de outubro de 2011

Seminário As Rãs - De Aristófanes

BREVE CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL DE ATENAS.


A peça As Rãs foi apresentada para o público ateniense no ano 405 a.C, e Aristófanes representa uma crítica a vários pontos da polis grega, numa época em que Atenas estava mergulhada em vários problemas internos e externos. Essa é uma fase tão crítica para a polis que, um ano após a apresentação, Atenas é dominada por Esparta e passará a ser regida por um modelo tirânico de governo.


Com o fim das Guerras Médicas Atenas torna-se uma cidade poderosa e passa a intervir nos assuntos do mundo grego. É criada a Liga de Delos, com intuito de proteger as cidades estados de futuras invasões persas. Com o tempo Atenas se fortalecia como estado mais forte da liga, fato que culminou com a transferência do tesouro de Delos para Atenas, que também passa a considerar qualquer desmembramento da liga como um ato de traição. Esparta aproveita a situação para incitar as outras cidades contra os atenienses e cria a liga do Pelopoloneso. Os membros das ligas contribuíam com sua formação com navios ou dinheiro e Tudo se satura no ano de 431 a.C, dá-se início a Gerra do Pelopoloneso, entre investidas, acordos de paz e novas batalhas, a guerra dura quase três décadas. Internamente a polis ateniense sofre reflexos, um período de peste, outro de enfraquecimento naval, população confinada dentro dos muros atenienses, conflitos internos por poder, lutas entre democratas e oligarcas. Atenas sofria com desordens e lutas externas. Se somado ao quadro de uma população descrente, governantes corruptos e a demagogia que imperava na cidade, morrem Eurípedes em 407 ac e Sófocles em 406 a.C. Finda-se essa guerra com a tomada de Atenas por parte de Esparta, no ano de 404 a.C.


COMÉDIA


A comédia passou a integrar as Grandes Dionísias em 488 a.C., tendo tido portanto um reconhecimento meio século depois da tragédia, segundo Aristóteles, a comédia demorou a ganhar a aceitação oficial, porque ninguém levou a sério. No ano de 440 a.C. a comédia foi também introduzida nas Leneias, outro festival em honra Dioniso no inverno. Aristófanes observou que a produção de comédias foi o trabalho mais difícil de todas. Na comédia o coro assumia uma importância maior que na tragédia e verificava-se uma maior interatividade com o público, já que os atores dialogavam com este.


Da Comédia Antiga apenas sobreviveram os trabalhos de Aristófanes, que se inspiram na vida de Atenas e que se caracterizam pela crítica aos governantes (Os Cavaleiros, Os Acarnenses), à educação dos sofistas (As Nuvens) e à guerra (Lisístrata). Um dos políticos mais criticados por Aristófanes foi Cléon, que teria levado Aristófanes aos tribunais por se sentir ofendido. Caricaturas como essas parecem sugerir que Aristófanes era um conservador à moda antiga, ainda que a visão dele leva a contradições.


A Comédia Nova desenvolveu-se a partir da morte de Alexandre Magno em 323 a.C. até 260 a.C.. Teve em Menandro um de seus representantes. A política já não era um dos temas explorados, preferindo-se enredos que giravam em torno de identidades falsas, intrigas familiares e amorosas.



ARISTÓFANES E A COMÉDIA ANTIGA


A palavra grega para "comédia" (kōmōidía) deriva das palavras "revel" e "música" (Komos e ODE) e de acordo com Aristóteles o drama cômico é realmente desenvolvido a partir da canção. A diferença da Comédia Antiga para a Nova é um afastamento das preocupações de grande atualidade, com pessoas reais e as questões locais para as situações. Isto foi em parte devido à internacionalização das perspectivas culturais durante e após a Guerra do Peloponeso. Para os comentaristas antigos, como Plutarco, a Comédia Nova foi uma forma mais sofisticada de drama do que comédia Antiga. No entanto a Comédia Antiga era na verdade uma forma complexa, incorporando muitas abordagens para humor e entretenimento. Nas primeiras peças de Aristófanes, o gênero parece ter desenvolvido em torno de um conjunto complexo de convenções dramáticas e estes foram apenas gradualmente simplificados e abandonados.


A Comédia Antiga pode ser entendida como uma celebração do sentido exuberante de liberação inerente à sua adoração. Era mais interessado em encontrar alvos para a sátira do que em qualquer tipo de defesa. Deuses, artistas, políticos e cidadãos comuns eram alvos legítimos, a comédia foi uma espécie de palhaçada, licenciados e não houve reparação legal para quem foi caluniado em um jogo.


Por conveniência, Comedia Antiga, representada pelas primeiras peças de Aristófanes, é analisada em termos de três características gerais: festa, atualidade e complexidade.


ARISTÓFANES (447a.C. – 385a.C) foi um dramaturgo ateniense considerado o maior representante da comédia antiga. Apesar de ter escrito mais de quarenta peças, apenas onze de suas obras sobrevivem até os dias de hoje, e foi através delas que conseguiu-se traçar o perfil da comédia ática.


Sua comédia não condenava e satirizava os sistemas, mas sim os abusos desse sistemas, criticando, por exemplo os políticos atenienses e não o sistema político, a democracia; ou os poetas, filósofos, cientistas, ou seja, personalidades influentes da sociedade. No entanto, apesar de basear-se em situações verídicas, o que mais importava nas comédias aristofânicas era o riso, portanto, não era incomum a presença do fantasioso, do onírico, do extremo, desafiando assim a “doutrina do meio-termo”.



RESUMO DA OBRA


AS RÃS (classificada em primeiro lugar no Festival, teve uma segunda apresentação)


Todos os grandes trágicos haviam morrido, deixando Atenas órfã de boas tragédias. Dionísio (sempre acompanhado de seu servo Xantias), que já não se sentindo um desejo incontrolável de assistir uma tragédia fosse digna de Baco, tem uma idéia: disfarçou-se de Hércules e vai ao encontro do mesmo para descobrir como era possível chegar ao mundo inferior e desse modo resgatar o grande trágico Eurípes, trazê-lo de volta a vida e a Atenas.


Em sua travessia na barca de Caronte, ele foi acompanhado por um coro de rãs (que dão nome a peça).


Ao chegar no mundo dos mortos, Dionísio é convidado por Hades a decidir, junto a ele a disputa que há entre Ésquilo e Eurípedes pelo trono de melhor poeta trágico.


ESQUILO X EURÍPEDES


A segunda parte da peça é o confronto entre os dois grandes trágicos, já mortos, Ésquilo e Eurípedes no qual o vencedor assumiria o trono da tragédia no Hades. As discussões não tinham um cunho puramente literário, elas englobavam juntamente as visões política e social dos autores, que logo no início, foram sendo definidas.


Ésquilo é tido como poeta tradicional e religioso, que retrata o homem limitado, embora heróis ou nobres, sempre subjugados ao poder divino. É defendido por Aristófanes, o que evidencia o conservadorismo do autor de As Rãs, que visava na tragédia uma função educadora. Eurípedes é o moderno, aquele que desce do Olimpo e vai retratar o homem comum, com todos os seus defeitos profanos. É acusado de ateu e sofista, por romper com a moral e a religião da época. Ele é comparado ao próprio Aristófanes por se assemelharem quanto ao alto teor de crítica político-social que ambos possuíam em suas obras.


No final do debate Ésquilo sai vitorioso. Ele tem agora a missão de salvar Atenas do caos, orientando os cidadãos e tornando-os mais nobres de alma. Terá que mostrar-lhes a verdade, a sabedoria dos deuses. Eurípedes nada conseguiu com seus protestos e discurso inovador.



CONSIDERAÇÕES FINAIS


Fica clara a capacidade de crítica voraz que Aristófanes faz, não com relação a democracia, mas aos engendramentos políticos e corruptos que existiam dentro dela. Não contra Eurípedes, mas sim com a representação levada ao extremo do pensamento relativista dos sofistas, que parecia demasiadamente demagógico e pouco funcional para atual situação de Atenas, sem contar que as disputas de argumentação estavam virando artigo de comercio, já que muitos sofistas mais pra frente começam a cobrar para ensinar a “arte”.


É muito interessante perceber a descrição e a forma como ele trata os problemas internos e externos da polis. E principalmente com a escolha de Ésquilo, uma vez que, Atenas precisava de um teatro que inspirasse o heróico, a união dos cidadãos em prol de uma ação comum para resgatar a cidade de ouro da época de Péricles. Pois estava ali nessa época uma polis cheias de questões, onde reinavam as argumentações, mas sem “tônus” militar, frágil em relação ao poderio de Esparta.


Dessa forma, trazendo pra nossa realidade, fica o questionamento sobre a real validade do conhecimento X fé. nos dias de hoje?


COMPONENTES DO GRUPO: Eric Meireles, Luis Carlos Ayres, Luisa Martins e Tainá Farias.

Um comentário:

  1. Acho que é importante aprofundarmos na origem da comédia e também lembrar do duelo entre Esquilo e Eurípedes. Sobre o tipo de escrita de cada, o que causava no público.

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