quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A TRAGICA HISTÓRIA DE DR. FAUSTO

SEMINÁRIO LITERATURA DO TEATRO
A Trágica História do Doutor Fausto – Por Christopher Marlowe
Grupo: André Vieira, Eric Farias, Isabela Camero, Luis Carlos Ayres, Maria Luiza Almeida e Marcéli Torquato

CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL
O renascimento marca o fim da idade média e o início da idade moderna. As diversas transformações na cultura, sociedade, economia, política e religião, caracterizam a transição do feudalismo para o capitalismo. Houve um florescimento das artes, filosofia e ciências. Chamou-se "Renascimento" em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da antiguidade clássica, que nortearam as mudanças deste período em direção a um ideal humanista e naturalista.
Características Principais:
Valorização da cultura greco-romana.
As qualidades mais valorizadas no ser humano passaram a ser a inteligência, o conhecimento e o dom artístico;
Antropocentrismo;
A razão e a natureza passam a ser valorizadas com grande intensidade. O homem renascentista, principalmente os cientistas, passam a utilizar métodos experimentais e de observação da natureza e universo.
Na Inglaterra, o Renascimento coincide com a chamada Era Elisabetana, reino da rainha Elizabeth I (1558-1603) e considerado frequentemente uma era dourada da história inglesa. Foi um breve período de paz nas batalhas entre protestantes e católicos e as batalhas entre o Parlamento e a monarquia. Nesse período houve grande expansão marítima, relativa estabilidade interna e se tornou possível pensar em cultura e arte. A reforma protestante e o humanismo introduziram novos elementos nas representações. Poetas como John Donne e Milton pesquisam novas formas de compreender a fé cristã, e dramaturgos como Shakespeare e Marlowe se movem com desenvoltura entre temas centrais da vida humana - a traição, a transcendência, a honra, o amor, a morte.
No teatro elisabetano, o autor não tinha a obsessão de buscar temas clássicos greco-latinos como assunto para suas peças, pois sabia que seu público estava interessado nos assuntos oriundos da história da Inglaterra. Além disso, não havia uma separação entre o teatro sério, de inspiração clássica, e o teatro popular. Grandes autores ingleses trabalhavam com obras que deviam satisfazer gostos diversos. Por isso, havia a fusão de comédia e tragédia, juntando, assim, o trágico, o cômico e o novelesco. Às representações compareciam príncipes, gente de cultura, humildes artesãos, camponeses e crianças, para contemplar batalhas, crimes, paixões amorosas e divertidos desencontros. Isso, porque a entrada estava ao alcance de todos, se bem que com preços distintos.
Era um teatro popular, mas tinha má reputação. As autoridades de Londres o proibiram na cidade, por isso que os teatros se encontravam do outro lado do rio Tâmisa, na zona de Southwark ou Blackfriars, fora das competências das autoridades da cidade. Porém Elizabeth I deu proteção ao teatro da época, pois seu gosto pelos espetáculos populares conseguiu contrabalançar as tendências puritanas do reino.
SOBRE O AUTOR: Christopher Marlowe (1564 – 1593)
“Considero a religião como um brinquedo infantil, e acho que o único pecado é a ignorância.”
Christopher Marlowe, considerado o pai da Tragédia Inglesa e instaurador dos versos brancos, foi batizado em 26 de Fevereiro de 1564 e morreu em 30 de maio de 1593, com apenas 30 anos de Idade. Foi um poeta, dramaturgo e tradutor na época Elisabetana. Sabe-se que ele foi contemporâneo de Shakespeare, apenas dois meses velho que este, e que influenciou várias obras shakespeareanas como “O Mercador de Veneza”, “Ricardo III”, “Macbeth” e etc. Porém, há vários mistérios que permeiam a vida e a morte desse escritor.
Muitas são as versões sobre o envolvimento de Marlowe com espionagem para o governo britânico dentro das instituições de ensino, sobre sua posição religiosa e sobre sua morte. A teoria mais forte sobre sua morte foi a de que ele foi assassinato numa taberna, nos subúrbios de Londres, a facadas, dias depois de ter sido interrogado e ter sua prisão decretada por heresia.
Mesmo sendo jovem, escreveu 8 obras: Dido, Rainha de Cartago, Tamburlaine, Tamburlaine (Segunda Parte), O Judeu de Malta, O Massacre em Paris, Eduardo Segundo, Doutor Fausto e Hero e Leandro (não acabada). Praticamente todas as obras de Marlowe foram publicadas postumamente. A própria obra da história de Fausto, possui duas versões, uma publicada em 1604 e outra em 1616. Para os estudiosos a primeira versão seria a mais próxima ao texto que o próprio autor teria escrito.

A TRÁGICA HISTÓRIA DE DOUTOR FAUSTO
Como um prólogo, o Coro diz-nos de que tipo de peça será “Dr. Fausto”. It is not about war and courtly love, but about Faustus, who was born of lower class parents. Não se trata de guerra e amor cortês, mas sobre Fausto, que nasceu de pais de classe baixa. Que fausto se dedicou muito ao estudo de Deus e seus mistérios, e lhe foi concedido o título de doutor, superando todos seus colegas de academia. Então ele, inflado por sua vaidade e sedento por mais conhecimento decide se enveredar pela arte da magia.
A peça inicia com Fausto, expondo que já chegou ao limite máximo do saber de todas as áreas do conhecimento, criticando a lógica e a medicina. Completa expondo a vontade de dominar os limites imutáveis do universo, colocando-os sob seu comando. Decide chamar os amigos Valdes e Cornélio para discutirem mais sobre o uso da magia e estes o encorajam a usar a magia.
Fausto, decidido a estender seu conhecimento e poder, faz um pacto com o diabo, Menfistófeles, que lhe dará tudo o que deseja Fausto, além de mais 24 anos de vida, e este em contrapartida, teria que assinar um acordo, com seu próprio sangue, se comprometendo em ir para o inferno após o vencimento desse prazo.
Características da peça:
Tem resquícios do teatro medieval
Versos brancos
Qual era o limite do conhecimento estabelecido pela igreja?
Blasfêmia de Fausto é muito ácida. Marlowe era ateu?
Trama simples com vários episódios curtos dentro de um enredo maior
ESTRUTURA DAS AÇÕES

CONHECIMENTO X RELIGIÃO
A História Trágica do Doutor Fausto conserva alguns arcaísmos do teatro religioso medieval. Há personagens alegóricos, como os Pecados Capitais, que desfilam no palco fazendo discursos retóricos. Mas Fausto não é apenas um miserável pecador punido num drama cristão. Ele é também um pensador radical em seu ceticismo, como se vê no seu monólogo inicial, em que rejeita como inúteis todas as disciplinas tradicionais nas universidades de então – teologia, lógica, medicina – para abraçar a magia e o ocultismo.
Não podemos atribuir a um personagem criado na época de transição em que Marlowe viveu um materialismo nos moldes do que conhecemos em nossa época, em que a natureza guarda cada vez menos mistérios para a ciência e o homem. O eventual materialismo de um homem do renascimento dificilmente chegaria a tal ponto, e o ateísmo propagado por Marlowe estava muito longe de ser uma forma aceitável de pensar em sua época. Fausto transita sobre uma linha divisória entre dois momentos do pensamento humano. A sujeição da busca pelo desvendamento do universo à divindade e à Igreja, predominante no pensamento medieval e que se perpetua nos movimentos de reforma protestante, cede gradativamente espaço para o livre pensar, compreendido como a indagação acerca da natureza e da máquina do mundo, o que implica até mesmo a liberdade para manipulá-la, e que encontra cada vez mais acolhida no pensamento humanista que, apenas floresce naquele período, particularmente na Inglaterra cosmopolita de Elizabeth I.

Na Trágica História do Doutor Fausto, se retoma uma lenda de origem cristã e protestante, que faz Marlowe expressar muitas de suas idéias em conflito com a religiosidade de sua época. E se emprega recursos do teatro didático cristão da Idade Média, utiliza-os para expressar conflitos internos do personagem, função que não exercem nos palcos anteriores ao período elisabetano. Desde sua origem histórica, aliás, muito antes de sua mais famosa manifestação na obra de Goethe, o mito de Fausto esteve diretamente vinculado aos movimentos do pensamento humanista ao fim da Idade Média, quando o poder da Igreja Católica, outrora soberano, era gradativamente posto em questão, por um lado pela ciência, que começava a propor sua interpretação do mundo e da natureza sem se submeter aos crivos da instituição religiosa, e por outro, pela reforma protestante de Lutero e Calvino. Na Trágica História do Doutor Fausto, se retoma uma lenda de origem cristã e protestante, que faz Marlowe expressar muitas de suas idéias em conflito com a religiosidade de sua época. E se emprega recursos do teatro didático cristão da Idade Média, utiliza-os para expressar conflitos internos do personagem, função que não exercem nos palcos anteriores ao período elisabetano. Todas as dúvidas do homem da era da Reforma convergem na nova figura de um prodigioso mestre da magia negra, como no universo católico, mas leigo e representante de todas as ciências e artes, das profanas como das espirituais. Marlowe extraiu as conseqüências da exclusão dos sacramentos e da mediação, ampliou decididamente, muito para além de Lutero, o alcance da auto-responsabilidade do homem. Em nome da razão, protestou contra a violação desta pela fé. A sua resposta ao pecado original foi o afastamento da vida cristã. Ele encarou com uma terrível seriedade o mal na natureza humana. O mal latente nele gerou, conseqüentemente, o mal. O resultado foi o pacto com o diabo (Hans Mayer. Höllenfahrt des Doktor Faustus. Apud BARRENTO,
1984, p. 14-15).